Luigi Ontani incomoda profundamente. Representante da cena artística italiana dos dias atuais, Ontani, como escreveu Nicholas Cullinan em crítica à
Frieze, “situa-se historicamente entre a assexuada Arte Povera dos finais dos anos 60 e a Transavanguardia, infestada de testosterona, da década seguinte”.
A arte italiana, de uma forma geral, sempre foi um pouco castrada. O lugar onde o cristianismo conseguiu fincar sua bandeira e o comunismo deixou suas influências vivas permitiu o florescimento de uma produção artística puritana.
Com o corpo nu, Ontani sexualiza. Mas incomoda. Impregnado dos contextos italianos, não mostra a liberdade sem nos lembrar da castração. No ensaio de Cullinan, ele diz: “O corpo para Ontani foi e é uma coisa relacionada com a beleza, para ser celebrada e empregada para o prazer, mais que a punição ou a catarse”. Não sei se concordo.
O que é rico em Ontani? A recorrência ao próprio corpo e ao rosto para personificar o mito, a história, o heroico, o prosaico... São maravilhosos os tableaux vivants do artista. Alguns nos lembram o prazer da vida, como defendeu Cullinan.
Outros nos acordam para o transitório da própria existência – a coroa de flores da vida é a mesma da morte.
Ontani também coloca, nas suas obras, questões como a memória. Tanto a história, quanto a pessoal. Pousa como Garibaldi, Napoleão, Shivaji (o deus da guerra na India) e vários outras personalidades ocidentais e deuses orientais.
“Oriente e Ocidente, pagão e cristão, clássico e contemporâneo colidem nesse e em outros trabalhos, que, além de suas erudições, também possuem um inquietante e negro impacto que só poderia ser descrito como um fauxmo-erotic”, aí Cullinan também fala da inquietude do trabalho. Não tão leve, não tão celebrável assim...