sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Usina da Dança

Aquele calor que vem dos ventres até a cabeça. Que impulsiona os movimentos mais despretensiosos e naturais. Aquilo, aquilo que você tá pensando. Aquela coisa louca que bate quando a sua pele está na pele do outro, e os seus olhos estão nos olhos do outro. Aquela excitação descontrolada que impulsiona tudo e todos a seguir o ritmo da música... Primeiro você dá aquela olhada. É ele. Ele retribui o olhar e sabe que, sim, você será a próxima, a verdadeira, a única. Ele vem. Oferece a mão. E você aceita. Agora, na intimidade do momento, tudo pode acontecer...

É assim que funcionam os bailes de salão, ou, pelo menos, deveriam funcionar. A verdade é que, atenção! atenção!, a lógica do mercado já atingiu os bailinhos de sábado à noite e, agora, para dançar de verdade, até suar, até a libertação de todos os demônios, só contratando um garotinho que tenha aquele jeito pro salão. Só assim, senão você fica chupando dedo.

Baile de salão deveria ser aquele espaço onde a paquera de dança estaria livre. - Aquele carinha dança bem. - Será que rola? - Será que ele vai me chamar pra dançar? - E o professor da academia X? - Quero dançar com ele!!! Mas não. Not. Fique feliz se você for chamada pra dançar uma vez durante todo o baile. A solução? Tenha um amigo gay que faça horrores na pista ou contrate aquele gatinho bailante. Pode ser profissional também. É a solução. Infelizmente. Mercadoria bailante, mercadologia de salão, bufunfa boleresca.

Ah, sim... Também não posso me esquecer de um grupo, em especial, que se regozija com o hábito de alugar bailarinos (além dos próprios, que ganham uma graninha extra pro final de semana). Falo das coroas modernas, desquitadas e arrasantes que soltam toda a sensualidade no salão. Elas pintam os cabelos, fazem plásticas, compram aquele vestido, contratam aquele lindinho e só faltam abrir escala no sábado à noite. A situação é divertida pra quem não está acostumado com a fechação da boa idade, mas é uma diversão quase antropológica.


Pois é... Apesar do mercado e dos alugueis, Bárbara, a paquera rolava solta, e quem era o elemento perdido na Usina da Dança* era você.

*A Usina da Dança é um evento organizado por Luciana e Bruno, professores de dança do Espaço Diverso. A festa aconteceu no dia 02 de Dezembro na Anthurius Recepções e contou com a Orquestra de Salão regida por Bruno, neto do ilustre Maestro Duda.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Les Chansons D'Amour



E agora vai a pergunta desconcertante: quem nunca teve um amor mal resolvido? Dois amores mal resolvidos? Três, quatro? Quem nunca amou mais do que foi amado e foi amado mais do que amou? Quem, quem? Quem já pensou que iria amar pra sempre, mas de repente a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu? E quem, ao contrário, já ficou de cara, de bobeira, desolado, que nem José?

É fato, minha gente. Todo mundo já viveu aquele draminha europeu, se já não tiver vivido o quente - mas profundamente melancólico - dramalhão mexicano. É que nem feijão e arroz. Pão e manteiga. Café. Tem que ter na vida do ser humano! Tem que ter aquele papinho pra compartilhar com as amigas. Aquela fofoquinha básica que completa o dia. O draminha faz parte. O dramalhão também, mas só de vez em quando.

Então... Amor vai, amor vem, e o que me aparece? Les Chansons D'Amour, para que eu cante sozinha! São as ironias da vida. Se tiver namoro e mimimi, os filmes são Tropa de Elite, Bastardos Inglórios... Coisinhas delicadas! Mas a grande novidade está no filminho de 1h30min. Pequeno. Simples. Conciso, mas recheado. O musical de Cristophe Honoré traz nada mais, nada menos que Louis Garrel, Ludivine Sagnier, Chiara Mastroianni e um relacionamento à três, tão atípico quanto incompreendido. O que há de mais verdadeiro na abordagem de Honoré é que a incompreensão se infiltra em todos os aspectos: na sociedade e nos próprios amantes - Ismaël (Louis Garrel), Julie (Ludivine Sagnier) e Jeanne (Chiara Mastroianni). Como colocar aquela teia sentimentos em um formato linear? Como querer dois em um? Ou um em dois? A autenticidade da dúvida, a liberdade da incompreensão, a admissão das diferenças são quase libertárias: se assume o que não se entende e vem a harmonia. O elemento novo, Erwann, interpretado por Grégoire Leprince-Ringuet, traz o contratempo. Aquele que sempre existe. Que um dia vem. Não importa as muralhas ou a base do edifício.




Não posso esquecer da trilha sonora! Composta por Alex Beaupain, é perfeita. São músicas daquelas que você escuta antes de sair da cama, depois de sair da cama, antes do café da manhã, depois do café da manhã e assim sucessivamente. Um achado. E ficam lapidadas, avec ces chansons d'amour, nossas canções de amor. Des bonnes raisons por t'aimer (as boas razões por te amar), a primeira música, se transforma em Inventaire (o inventário), da separação.

Recomendo pros apaixonados, amados, amantes, solteirões, desquitados e libertados.