segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Das filosofias sobre prisão e liberdade

Prisão é estado de alma. Sensação. São amarras internas impostas por nós a nós mesmos. As grades de Guantánamo construídas pelo inimigo inquilino. As prisões de Bagdá impostas pelo nosso xiita mais ferrenho. Mordaças medievais. Algemas universais. A prisão é um monte de terra erigido nos tempos em que os homens não sabiam o que eram navios, barcos, canoinhas de pesca. O bom é que os prisioneiros ficavam a ver estrelas, longe da expressão “a ver navios”, tão triste e desoladora.

Se a prisão pode estar presente nos campos mais vastos, por que não dizer que a liberdade está nas salas mais pequenas? Nos cubículos mais estreitos? Liberdade é sentimento. É aquilo que se leva como um pote de ouro para as quatro paredes mais invasivas, para os montes de concretos mais ameaçadores.

Pode-se dizer também que, nas Prisões - essas maiúsculas que estão por aí para prender mesmo, dentro de grades, paredes, espinhos, sistemas de segurança e de monitoração, os grandes criminosos da nação -, existe o tão precioso pote de ouro. A tão desejada e almejada por todos nós, liberdade. Também existem as ilhas, nas Prisões. Mas são aquelas ilhas novinhas, levantadas nos tempos em que os homens já sabiam o que eram botes, cruzeiros, caravelas, cruzadas. São esses pedaços de madeira lançados em oceano infinito que mantém o pote de ouro alimentado. A chama da liberdade acesa. Que alimenta, com pedaços de madeira, de querosene, de óleo mesmo, aquilo tudo, poxa, que faz fogo. Cachaça, Vodka, Whisky, põe Jurubeba, Vinho, esses maravilhosos álcoois que incendeiam a vida, vezenquando.

Se prisão é liberdade. Liberdade é prisão. Mais tristemente: Liberdade é Prisão. A vida é preto no branco, feijão no arroz, noite no dia, claridade, escuridão. São os contrastes. São eles que tornam o mundo perceptível. Não dá pra engolir a vida em um gole só, né verdade? Amor e ódio, alguém sabe separar um do outro? Palestina e Israel. Bush e Obama. Hitler e Gandhi. Um não seria compreensível sem o outro. Ainda bem, pois assim podemos entender o braille da existência.

De lá pra cá, de cá pra lá, eu queria dizer que o MAC, Museu de Arte Contemporânea, em Olinda, é triste. Um mofo só. Um calor só. Fiquei com aquela frustração artística que abala os trópicos, infelizmente. Mas penso cá: é uma riqueza histórica. O MAC foi construído em 1765 para ser uma prisão eclesiástica, enclausurando negros, feiticeiros, judeus e todos aqueles que, em tempos de Inquisição, atacaram a intocável moral cristã. Depois de ser prisão eclesiástica, o nosso MAC se transformou em cadeia pública para a cidade de Olinda. Somente em 1950, quando Pernambuco recebeu a coleção artística do Embaixador Assis Chateaubriand, que a cadeia pública se transformou em museu. Contraditório. São as ironias da vida. Alguém pensaria que essa Prisão, maiúscula maldita, se transformaria em um dos maiores territórios de liberdade, onde mora a Arte, apesar do calor fumegante do veraneio pernambucano?

Morri de calor, mas amei ter uma amiga que me deu esse insight do museu que era prisão. Fiquei antenada e abri meu coração pra’quele momento. Me abracei. Seria um insulto fazer daquele museu uma prisão. A prisão minúscula, criada por nós. E me senti livre.

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